A erosão está tendo efeitos dramáticos no maior iceberg do mundo durante estes que serão, provavelmente, os últimos meses da existência dele.
Um navio operado pela empresa de expedições Eyos chegou ao gigante congelado, A23a, no domingo (14/1) e encontrou enormes cavernas e arcos escavados em suas paredes congeladas.
O iceberg está sendo destruído pelo ar mais quente e pelas águas superficiais que encontra à medida que se afasta lentamente da Antártida.
Como consequência, ele derreterá e desaparecerá.
“Vimos ondas de uns bons 3 ou 4 metros de altura colidindo com o iceberg”, disse o líder da expedição, Ian Strachan.
“Isso estava criando cascatas de gelo — um estado constante de erosão”, disse ele à BBC News.
O A23a se descolou da costa antártica em 1986, mas só recentemente iniciou uma grande migração.
Durante mais de 30 anos, ele ficou rigidamente preso nas lamas do fundo do Mar de Weddell, como uma “ilha de gelo” estática, medindo cerca de 4.000 km² de área. Isso é o equivalente a mais de três vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro.
O colosso está atualmente à deriva na Corrente Circumpolar Antártica, a grande corrente de água que circunda o continente no sentido horário.
Essa corrente, juntamente com os ventos de oeste, está empurrando o A23a na direção das Ilhas Órcades do Sul, que ficam a cerca de 600 km a nordeste da ponta da Península Antártica.
Está seguindo firmemente na rota do que os cientistas chamam de “corredor dos icebergs” — o principal caminho de gelo do continente.
A interação entre ventos, frentes oceânicas e redemoinhos determinará o curso desse gigante nas próximas semanas. Mas muitos desses icebergs de topo achatado, ou tabulares, acabam passando pelo Território Britânico Ultramarino da Geórgia do Sul.
O seu provável destino é fragmentar-se e definhar até desaparecer. Seu legado é a vida oceânica que ele semeia ao liberar nutrientes minerais. Desde o plâncton até as grandes baleias — todos se beneficiam do efeito de “fertilização” do degelo dos icebergs.
No domingo, a equipe Eyos chegou perto o suficiente do A23a para fazer imagens usando um drone. Os penhascos de 30 metros de altura do iceberg estavam cobertos por uma névoa densa. Icebergs nesta escala criam seu próprio clima.
“Foi dramático e lindo de fotografar”, disse o cinegrafista da Eyos, Richard Sidey.
“É incrivelmente grande. Na verdade, não acho que seja possível entender como é grande. Só podemos compreender como é grande pela ciência. É certamente grande demais para ser fotografado. Ele se estende até onde a vista alcança em qualquer direção.”
As observações por satélite podem monitorar a cobertura da sua área e avaliar a sua espessura, que em alguns locais ultrapassa os 300 metros. Em termos de massa, não está muito longe de um bilhão de toneladas, embora ela esteja diminuindo dia após dia.
A grande questão é: quanto tempo o A23a sobreviverá, à medida que se afasta dos climas mais frios da Antártida?
As temperaturas mais amenas do ar criarão lagoas na superfície que se infiltrarão no iceberg, ajudando a abrir fissuras.
E essas espectaculares catacumbas e arcos superficiais entrarão em colapso, deixando extensas áreas de gelo submersas que então se erguerão para corroer as bordas do iceberg.
Mas outro grande bloco de gelo à frente do A23a pelo caminho pode ser instrutivo para compreender a sua potencial longevidade.
O iceberg D28, também conhecido pelo seu nome popular “Molar Berg”, está se movendo para o Atlântico Sul, cerca de 200 km a norte da Geórgia do Sul.
Embora tenha perdido cerca de um terço da sua área desde o nascimento na plataforma de gelo Amery, na Antártida, em 2019, o D28 conseguiu manter a sua forma básica.
Poderia o A23a, com suas próprias dimensões quadradas, ter vida igualmente longa?
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