“Não iria sozinha para um jogo. A gente vai se organizar para irmos juntas”, conta Mariana Neme, de 42 anos, uma das fundadoras do Elas no Movimento Verde e Amarelo, grupo que reúne 65 torcedoras que irão à Copa do Mundo no Catar. “Estamos indo com coração e cabeça abertos, mas muito receio”, completa.
Mariana explica que há uma sensação geral de incerteza entre as mulheres que vão para o evento, por causa das grandes diferenças culturais entre o Brasil e o Catar. Trata-se de um país muçulmano conservador, que criminaliza a homossexualidade e é muito criticado pela violação de direitos das mulheres e da comunidade LGBT+.
Na contramão, Gianni Infantino, presidente da Fifa, organizadora do evento, declarou publicamente que todos serão bem-vindos ao torneio “independente da sua raça, origem, religião, gênero, orientação sexual ou nacionalidade”. Estão previstos mais de um milhão de visitantes para o evento, dentre os quais muitos que nunca tiveram contato direto com a cultura árabe.
Mariana conta que, no início do ano, pouquíssimas mulheres haviam confirmado a ida, mas com a proximidade das datas, este cenário mudou. “Eu acho que tem a ver com um frenesi, uma energia indescritível, que só sentimos em eventos dessa magnitude”, conta. Razão pela qual, mesmo com as incertezas sobre o país anfitrião da Copa, ela diz continuar achando que vale a pena ir.
Para Isabelle de Castro, professora do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e especialista em Oriente Médio, porém, por se tratar da Copa e de um país com mais de 90% da população composta por estrangeiros, os visitantes devem ser bem recebidos. “Um evento deste tamanho num país super pequeno, vai ter muito policiamento, muita gente olhando, eu acredito que vai ser super seguro, respeitadas as diferenças.”
Neste sentido, a especialista frisa a importância dos brasileiros respeitarem as regras locais, como a cobertura dos joelhos, ombros e cabelos em prédios públicos, museus e mesquitas, além de evitar demonstrações de afeto, como beijos e abraços, em locais públicos e o consumo de álcool apenas nos locais permitidos. Apesar de acreditar que não será necessário cobrir o cabelo na maior parte das situações, Isabelle sugere que as mulheres levem sempre consigo um lenço, em caso de necessidade.
Sobre os riscos de violência de gênero, Isabelle diz que as mulheres latino-americanas, infelizmente, já lidam com este receio no dia a dia e, por isso, conhecem alguns mecanismos para se proteger. “Minha recomendação é a mesma para qualquer mulher que viaje sozinha, independente do destino: respeitem as regras locais e tenham bom senso de andar em lugares com gente e iluminados”, diz Isabelle.
Da Redação Na Rua News
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